Os Jesuítas e a Igreja mais Antiga do Ceará: Igreja de Nossa Senhora da Assunção em Viçosa do Ceará

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, em Viçosa do Ceará, a primeira igreja construída em território cearense.

Subimos a serra da Ibiapaba, saindo de Sobral pela BR 222 e depois a CE 187, cerca de 120km e chegamos a Viçosa do Ceará. Eram mais ou menos 15h daquela segunda feira 27 de outubro de 2025 e o clima que veio mudando a medida que subíamos a chapada nos recebeu com amenos 19ºC. A partir de seu Portal de Entrada e passando por suas ruas de casinhas geminadas e coloridas, grandes e pequenas, sua praças e monumentos, fomos apresentados a essa cidade absolutamente encantadora, com tombamento federal de seu sítio histórico urbano, realizado pelo IPHAN em 2003.

Praça Clóvis Beviláqua em Viçosa do Ceará

Chegando à praça Clóvis Beviláqua, um conjunto precioso de edificações vamos encontrar edifícios históricos, públicos, institucionais, religiosos e residenciais; como o palacete da Casa Paroquial, o Palácio da Cidade onde funciona a prefeitura municipal, o Palácio Monsenhor Carneiro que é sede da Câmara Municipal, hotéis e palacetes residenciais  aí chegamos a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, simplesmente a primeira igreja construída em território cearense.

Viçosa, no estremo norte do estado do Ceará

Viçosa do Ceara, tombada pelo Patrimônio Histórico. foi o primeiro povoamento português na Serra da Ibiapaba; era habitada por indígenas da nação Aconguaçús, predominantes por esses lados da serra sem falar da grande nação Tabajara os "Senhores da Serra", além de outras etnias. Ali ocorreram os primeiros contatos com os colonizadores europeus; primeiro os franceses que inclusive criaram a "Feitoria da Ibiapaba" ainda pelos idos de 1590, ali já mantinham comercio e escambo com os índios com destaque para o Cacique Irapuã; Mel Redondo; que mantinha suas aldeias entre a atual Tianguá e Viçosa. 

Tailene Barros na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção
Tailene Barros na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção

De imediato a Matriz de Nossa Senhora da Assunção, de estilo barroco,  chama a atenção por sua beleza ímpar, com suas linhas retas e imponentes se destacando numa leve elevação contígua a própria praça. Vamos recorrer ao site oficial da prefeitura de Viçosa do Ceara para trazer um pouco da história desta extraordinária igreja: "A Igreja Matriz de Viçosa do Ceará foi construída pelos Jesuítas no último lustro do século XVII. Em carta datada de 25 de julho de 1697, dirigida ao Pe. Ascenso Gago informava: "para o verão seguinte, se Deus nos der mantimentos, se fará a (...) igreja em forma, para a qual se vai tirando a madeira necessária". 

"Em 1700, ano em que foi fundada a Aldeia da Ibiapaba, "concluiu-se a igreja, que já estava principiada antes, formosa e grande. Pequena, ainda assim, para tanta gente como ia ter a aldeias. As madeiras da serra, menos compridas do que se requeriam, não permitiam mais grandeza". E a 15 de agosto daquele ano "veio à inauguração da igreja. Colocou-se nela a imagem da soberana Virgem Senhora Nossa da Assunção. Procissão, missa, prática aos índios e, para maior pompa, o batismo solene de vinte e cinco catecúmenos."

Tailene Barros e Manoel Severo na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção

A Arquitetura interna segue a praxe ate hoje observada nos templos católicos; uma nave nave central que nos leva até o altar e aso lados naves laterais ladeadas de imagens e adereços fixados nas paredes grossas e históricas. "O acesso faz-se pelas três portas da frente mencionadas, penetrando-se sob um coro alto, cuja largura é igual à da nave central e cujo piso é sustentado por viga que descarrega sobre duas colunas. Na cabeceira da nave central, situa-se a capela-mor, por sua vez ladeada por dois compartimentos que dão continuidade às naves laterais e a própria capela-mor, por meio dos arcos." 

"Da entrada da matriz até o início da capela principal do altar-mór, 25,35 m de comprimento por 8,80 m de largura constituindo da nave, como nos lados, seis arcadas altas com acesso aos corredores laterais. Logo na entrada, acima, avista-se sobreposto o coro em madeira na extensão da nave central, assim como toda o guarda-pó em madeira com suportes em tesoura. A capela-mor possui 6,82 m de largura por 9 m de comprimento. É esse espaço o mais antigo e de onde teve início toda a grande matriz. Do nível do piso a 0,73 cm chega-se à mesa do altar-mor por quatro degraus de madeira."


"Este antigo altar de madeira de 2,35 m de comprimento por 0,99 cm de largura é torneado até a base; sobressai-se ao retábulo-mor de madeira que possui quatro ninchos que abrigam imagem dos santos, dois encimados de cada lado do camarim com o trono da imagem de Nossa Senhora da Assunção. Todo o retábulo-mor, ornado em alto relevo, impressiona pelos elementos decorativos. Acervo da arte barroca luso-brasileira é no altar-mor e nas pinturas dos paineis do forro da Igreja, onde podem ser apreciadas as relíquias artísticas. Verdadeiras preciosidades anônimas, uma vez que não existem registros históricos que indiquem o nome ou origem do artista responsável pela obra. Pelo grau de refinamento, pesquisadores acreditam tratar-se de alguém que conheceu profundamente o cenário artístico mundial. Os painéis do forro expressam uma série de virtudes cristãs e sentidos humanos, elementos tradicionais da pintura barroca, e traços que montam a arte chinesa, expressos nas faces das figuras. Além disso, o artista ousou inserir elementos da flora e da fauna local. Os painéis da Igeja da Assunção foram assim identificados: Virtudes Teologais - três painéis (Esperança, Fé e Caridade); Virtudes Cardeais ou Morais: (Justiça, Prudência Fortaleza e Temperança); e os Painéis dos Sentidos Humanos: (Tao, Visão, Audição, Paladar e Olfato). Segundo ainda Prof. Liberal de Castro "os painéis da Igreja Matriz constituem de certo modo, se não a única, mas sem dúvida a mais importante realização da arte barroca no Ceará, tratando-se de obra inquestionável significação no acervo artístico nacional"

 "Com uma vasta obra literária, Padre Antônio Vieira foi um dos jesuítas da Companhia de Jesus no Brasil no século 17. Passou boa parte da vida no que, hoje, é o estado do Maranhão. De lá, foi em missões ao Ceará, fundando a Missão Jesuítica da Ibiapaba em 1655,  que visava catequizar os indígenas locais, especialmente os Tabajaras, e se opôs à "República de Cambressive" liderada por Antônio Paraupaba. Essa missão, sediada na atual Viçosa do Ceará, foi extinta em 1758 pelo Marquês de Pombal, mas deixou um legado importante documentado na obra de Vieira, como a "Relação da Missão da Serra de Ibiapaba.

 A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, em Viçosa do Ceará, teve sua fundação originada pelo padre e guarda traços dessa passagem. Vieira ganhou notoriedade com os seus sermões e cartas, se destacou na política e ficou marcado na História como o grande defensor dos povos indígenas no período colonial.

Antônio Paraupaba (c. 1595–1656) foi um dos mais importantes líderes potiguara do século XVII, cuja trajetória atravessou oceanos e fronteiras coloniais. Filho de Gaspar Paraupaba, nasceu na Capitania da Paraíba em meados do final do século XVI, numa época marcada por intensos confrontos entre portugueses, holandeses e povos indígenas do Nordeste. 


"Os Jesuítas chegaram ao Ceará enviados por Portugal, por volta da metade do século XVII, com o objetivo de evangelizar os nativos, que havia se tornado hostis à medida que criadores de gado exploravam os sertões.  A ação catequizadora dos jesuítas na metade do século XVII diferia das práticas iniciais. A princípio os membros da Companhia de Jesus procuravam evangelizar os índios de forma espontânea, com danças, procissões, presentes, cantos e pregações, visitando-os e convivendo com eles por certo período nas aldeias.  Essa estratégia não deu certo. Bastavam os padres deixarem as aldeias para que os indígenas retomassem seus costumes tradicionais. Antes vistos como doces e inocentes, os índios passaram a serem considerados seres bestiais, animalescos, endemoniados. Para convencê-los a aceitar a fé cristã, seria necessário, antes de tudo, dominá-los e afastá-los de seus hábitos primitivos, dos pajés, feiticeiros, e curandeiros. Os aldeamentos ou missões eram áreas em que se erguiam espécies de aldeias artificiais, ambiente diferente das aldeias naturais dos nativos, para onde os índios eram conduzidos e mantidos para serem doutrinados. Criavam-se os aldeamentos a partir da concessão pelo governo de terras necessárias à sobrevivência dos índios que visavam catequizar. 

A Carta Régia de 1700 estabeleceu a dimensão de uma légua quadrada de terra para os aldeamentos. Durante anos os jesuítas tentaram inutilmente fundar aldeamentos estáveis na Ibiapaba, local onde os índios se opunham ferozmente à presença dos invasores. Várias vezes os jesuítas foram obrigados a deixar a serra, fosse por resistência dos índios, fosse por pressão dos colonos e autoridades d Maranhão, os quais desejavam escravizar os nativos. Por fim, em 1695, os religiosos conseguiram se instalar na serra, fundando em 1700 o aldeamento de Nossa Senhora de Assunção da Ibiapaba, no local da atual cidade de Viçosa do Ceará. Já em 1702 a Aldeia da Ibiapaba já abrigava mais de quatro mil pessoas, o que a tornava um aldeamento de dimensões consideráveis. Na primeira metade do século XVIII a Missão da Ibiapaba se tornara o maior aldeamento do Brasil. Para dar uma base de sustentação econômica à aldeia, o governo português determinou a entrega de sesmarias aos religiosos onde pudessem criar gado. Assim, recebendo como doação ou comprando terras, os jesuítas se tornaram proprietários de vastos latifúndios, possuindo terras nas proximidades dos rios Jaguaribe, Choró, Pacoti, Aracatiaçu e Coreaú. " 

Visita do Cariri Cangaço a Serra da Ibiapaba
Viçosa do Ceará, 27 de outubro de 2025

Seu Luiz de Cazuza e a Emblemática Fazenda São Miguel em Serra Talhada

Manoel Severo na casa de seu Luiz de Cazuza

A região do Pajeú pernambucano é verdadeiramente um seleiro de memórias imorredouras da época do cangaço; não poderia ser diferente, os mais destacados personagens desta saga sertaneja nasceram por essas bandas e cá; Antônio Silvino, Sinhô Pereira e Virgulino Ferreira da Silva, com certeza esses três ja bastam... Serra Talhada, a antiga Vila Bela, guarda em seu território histórias que pontuaram os destinos de todo o sertão, e assim são as vizinhas fazendas: Passagem das Pedras, Pedreira e São Miguel; ali nasceu seu Luiz de Cazuza.

Luiz Alves de Barros, seu Luiz de Cazuza

Seu Luiz de Cazuza , ou Luiz Alves de Barros, patriarca da fazenda São Miguel. Nascido em 1910 no epicentro das origens do cangaço, ainda menino acostumou a encontros furtivos com os vizinhos beligerantes : o rei do cangaço Virgulino nasceu na Passagem das Pedras e seu primeiro inimigo, Zé Saturnino nasceu na Pedreira ; agora adivinhem quem morava exatamente entre os dois ; seu Luiz de Cazuza . Temos o privilégio de entrar na casa grande e conhecer de perto as memórias que nos trazem seu Luiz de Cazuza.

A casa grande da fazenda São Miguel, ou como os descendentes falam: a casa de vô Luiz e vó Teresa, fica bem na entrada , dali se avista o clube de São Miguel, a Biblioteca Luiz de Cazuza e as casas dos filhos; Louro, dona Ilma, dona Netinha, dona Marina, dona Suely e seu Paulo, a casa grande permanece como a guardiã de todo aquele território.

Manoel Severo na frente da casa de seu Luiz de Cazuza

Todos os que se acostumaram a passar por ali, tomar um gole de café com um pedaço de bolo de tia Cacilda, ou ver passar o tempo ouvindo os "passarim" de longe e de perto, não esquecem jamais duas coisas: uma o famoso banco de madeira mantido eternamente bem ali na frente do"terreiro" e a outra era uma boa prosa com o patriarca da família, seu Luiz de Cazuza.

Centenário e famoso banco de madeira mantido sempre em frente a casa da fazenda
Ângelo Osmiro e Luiz de Cazuza
Ricardo Sabadia, Luiz de Cazuza e Manoel Severo, fotos dos anos 2008

Euclides falava que o "nordestino é antes de tudo um forte". Quem conheceu Luiz de Cazuza, vai compreender o que essas palavras representam. Exemplo de retidão e ética sertaneja, referência de honradez para todos os que o conheceram , seu Luiz plantou sementes de humildade para colher um jardim de bonanças por toda a vida ao lado de sua esposa, dona Teresa e seus 11 filhos. 

Estive algumas vezes na fazenda São Miguel, desde os idos de 2007 ao lado dos amigos Paulo Gastão, Aderbal Nogueira e Ângelo Osmiro em expedições da SBEC, naquela época , ainda rebuscando o que lhes restava da espetacular memória, seu Luiz nos trazia inúmeras lembranças de seu tempo de menino e rapazola, quando por mais de "14 vezes se deu com Virgulino". Nascido ali mesmo na Fazenda São Miguel; seu Luiz era filho José Gomes de Barros, conhecido por "Cazuza" daí a alcunha Luíz Cazuza; aqui um parêntese; essa preposição, Luiz "de" Cazuza, foi dada pelo amigo Paulo Gastão, pelo menos foi isso que familiares me disseram, pois ali todos conheciam o patriarca apenas como Luiz Cazuza. 

"São tantas lembranças de Vôinho, meu Deus. Mas uma que fica sempre em minha memória era que ele vinha toda manhã quando painho voltava do chiqueiro dos bichos, ele vinha lá pra casa; que é bem pertinho da casa grande do São Miguel; sentava num sofazinho verde que tínhamos na sala e ficava numa prosa sem fim com painho, ate  parece que estou vendo ele com aquela voz mansa e baixinha, e os assuntos? 
Ora ora: histórias do tempo do cangaço, já pensou...."
Tailene Nogueira Barros, neta de Luiz de Cazuza
Manoel Severo e Dogival Alves de Barros, o Dôge e o fole de oito baixos de seu Luiz que Lampião quis levar.

Hoje seu Luiz já não se encontra entre nós, na casa grande mora um de seus filhos, Dogival Alves de Barros ou simplesmente Dôge, e foi Dôge que nos recebeu nesta atual visita e nos mostrou não só a casa, mas o tamanho da memória de seu Luiz que repousa em cada canto e em cada coisa. Um dos momentos marcantes dessa nossa visita foi pegar em minhas mãos o fole de oito baixos que pertencia a seu Luiz e que foi cobiçado pelo rei dos cangaceiros, Lampião.

Luiz Cazuza e dona Terezinha
Luiz Cazuza e João Gomes de Lira
Festa de seus 100 anos: Seu Luiz plantou sementes de humildade para colher um jardim de bonanças por toda a vida ao lado de sua esposa, dona Teresa e seus 11 filhos. 

O álbum de fotografias da família traduzem o grande carinho e amor que todos nutriam pelo velho e centenário patriarca, com destaque justamente para seu aniversário de cem anos comemorado em setembro de 2010, cercado pelos filhos, netos, bisneto, parentes e amigos, muitos amigos. Seu Luiz veio a falecer no dia 28 de março de 2011, deixando um legado de trabalho e dedicação à família tão marcantes como sua forma de viver e receber os amigos. 

Vaja como foi a visita do Cariri Cangaço à Fazenda São Miguel de seu Luiz de Cazuza no Canal do Cariri Cangaço no YouTube, no link abaixo:

Visita a Fazenda São Miguel - Luiz de Cazuza
Canal do Cariri Cangaço no YouTube

Por Manoel Severo Imagens por Tailene Nogueira Barros Em 04/02/2024 - Fazenda São Miguel , Serra Talhada PE

Luiz de Cazuza e a Fazenda São Miguel - YouTube do Cariri Cangaço

Visita a Fazenda São Miguel - Luiz de Cazuza
Canal do Cariri Cangaço no YouTube

O Santuário da Beata Lindalva no Sertão de Açu: Cariri Cangaço Visita

Estátua da irmã Lindalva em Açu

Sempre faço o trajeto entre Fortaleza e Natal, isso mensalmente. Logo depois de Mossoró cerca de 60km pela BR 304, chegando ao município de Açu, vamos avistar a placa indicativa onde esta escrito: Santuário da Irmã Lindalva, ponto. Entre muitas idas e vindas, nunca havia me interessado em conhecer, foi quando em uma dessas viagens, minha mulher , Tailene, comentou: "podíamos conhecer esse santuário da Irmã Lindalva"; a provocação ficou no ar, mas na viagem seguinte, cumprimos o compromisso.

Ha pouco mais de 5km do entrada do centro de Açu, pela BR 304, entramos no trevo que da acesso ao Santuário. Percorremos; eu, Tailene e Emily, também cerca de 5 km nesse trecho do acesso asfaltado, quando de repente, "do meio do nada" erguida num descampado típico da nossa caatinga sertaneja, desponta a imagem da Beata Irmã Lindalva. A surpresa tomou conta de todos nós; explico: na verdade imaginávamos que iríamos encontrar um templo, uma igreja ou uma capela, enfim, mas apenas aquela estátua no meio do sertão árido e cheio de fé, tão próprio do povo nordestino, trazia e celebrava o martírio dessa religiosa pouco conhecida pela grande maioria de nós.

Tailene Barros no Santuário da Irmã Lindalva
Santuário da Irmã Lindalva em Açu, RN

Essa maravilhosa fé que move o sertanejo é capaz de nos proporcionar momentos absolutamente impactantes, como esse ao chegarmos no Santuário da Irmã Lindalva e perceber o tamanho da devoção do povo do sertão, capaz de demonstrações extraordinárias de amor e esperança em dias melhores. 

Irmã Lindalva, cujo nome completo é Lindalva Justo de Oliveira, era uma religiosa brasileira da Congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Nascida em 20 de outubro de 1953, no município de Açu, no Rio Grande do Norte, foi assassinada com 44 facadas, em 9 de abril de 1993; uma sexta-feira santa, em Salvador, Bahia ; quando se defendia de um assédio sexual por um homem que morava neste abrigo Dom Pedro II, onde realizava sua  dedicação religiosa. Conhecida como mártir pela Igreja Católica, ela foi beatificada em 2 de janeiro de 2007 e sua festa é celebrada no dia 7 de janeiro.  Os seus restos mortais repousam na Capela das Relíquias da Beata Lindalva, em Salvador, mas o seu testemunho continua vivo na Igreja e a sua memória no coração de tantos devotos.

Manoel Severo e Emily Feitosa

Recorremos à Revista "Arautos do Evangelho" para trazer a história da Beata Lindalva: "Nascida em 20 de outubro de 1953, no seio de uma família camponesa do município de Açu, no Rio Grande do Norte, recebeu as águas batismais três meses depois de vir à luz. O pai, João Justo da Fé, pequeno proprietário, cultivava seu sítio para manter uma família numerosa de 16 filhos. Era homem piedoso e de caráter forte. Admirava as histórias dos Patriarcas do Antigo Testamento e em algo os imitava. Maria Lúcia, a mãe, tinha consciência do compromisso que assumira ao contrair matrimônio: a formação dos filhos. Nessa católica família refletia-se o amor entre pais e filhos, mas igualmente não faltavam a disciplina e a severidade, quando era necessário corrigir os pequenos caprichos e as travessuras infantis. Desde criança, Lindalva demonstrava propensão para ajudar os outros e se sensibilizava com o sofrimento alheio. Não lhe agradavam as brigas e nunca se zangava. Gostava de correr, banhar-se na lagoa próxima ou subir em árvores para comer os frutos recém-colhidos. Mas seu brinquedo favorito era modelar bonecas de barro, que deixava secando ao sol, e depois coser roupinhas para elas, com retalhos de tecidos. Revelando-se uma menina muito madura para sua jovem idade, tinha consciência do sacrifício dos pais para manter e educar a numerosa prole, e queria auxiliá-los de alguma forma. Assim, estava sempre disponível para ajudar à mãe, aprendendo muito cedo a cozinhar e a costurar. E procurava imitar o exemplo de sua progenitora que, apesar de pobre, tirava de sua parca despensa para socorrer outros mais necessitados. Os filhos cresceram, precisavam estudar e as exigências aumentaram. João decidiu mudar-se para Açu, onde vários deles conseguiram emprego. Lindalva cursava o Ensino Fundamental e trabalhava como babá na casa de uma família abastada. Quando algum conhecido precisava de ajuda, por doença ou qualquer outro motivo, recorria a ela. “Você deve ter vocação para enfermeira, porque está sempre disponível e faz tudo com alegria!” — dizia-lhe uma de suas companheiras.Começou a estudar enfermagem para poder doar-se mais e tomou a grande decisão de sua vida: em setembro de 1987, escreveu à Provincial das Filhas da Caridade, pedindo admissão como postulante. “Faz muito tempo que sinto o desejo de entrar na vida religiosa, mas somente agora estou disponível a seguir o chamado de Deus. Estou pronta para dedicar-me ao serviço dos pobres”, escreveu ela.

Admitida dois meses depois, foi enviada para fazer o postulantado na comunidade do Educandário Santa Teresa, em Olinda, Pernambuco. Esse período não foi senão um contínuo exercício do propósito que fizera, de basear sua vida espiritual na felicidade em Cristo e no bem do próximo. O testemunho de suas superioras durante essa fase foi sempre de admiração por sua disponibilidade, humildade e alegria na doação aos outros, quer aos pobres ou idosos, quer às outras irmãs, na vida comunitária. Progredia na vida interior, entregando-se mais e mais nas mãos d’Aquele ao qual se havia abandonado, confiando-Lhe inteiramente seu destino, tal qual recomenda o Rei Profeta: “Confia ao Senhor a tua sorte, espera n’Ele, e Ele agirá” Sob o olhar atento das superioras, foi admitida no noviciado, dando um passo mais decidido na entrega a Jesus, dentro do carisma de sua Congregação: o serviço aos pobres e necessitados. Na festa da Virgem do Carmo, 16 de julho de 1989, vestiu o hábito de Filha da Caridade e passou a chamar-se Irmã Lindalva. Em carta a uma amiga, nesse mesmo ano, manifestou como se sentia realizada na vida religiosa: “Aqui tudo é graça! Vivemos num profundo silêncio e união com Deus. (…) Os meus pensamentos e o desejo que tenho de amar a Deus sobre todas as coisas fazem com que eu me sinta muito feliz. Outra parte da nossa vida é o amor às pessoas que conquistamos, mas é através do amor a Deus que amamos as criaturas; somente não devemos deixar que este amor seja maior que o amor a Deus”. Algumas de suas cartas confirmam a plenitude desta entrega ao Senhor, e revelam a autenticidade da vocação que escolhera. “Estou muito feliz. (…) O meu destino está nas mãos de Deus, mas desejo de todo coração servir sempre com humildade, no amor de Cristo”, escrevia a uma amiga, em março de 1988.


Findo o tempo de noviciado, em 26 de janeiro de 1991, Irmã Lindalva foi enviada para um abrigo de idosos em Salvador, capital da Bahia. Em carta a uma irmã de hábito, renovava seus propósitos de ser humilde e simples nas dificuldades que certamente viriam, recordando as palavras da Escritura: “Nada temas, pois Eu te resgato, Eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo. E os rios não te submergirão” . Foi com esta confiança que cruzou os portões do antigo casarão do século XIX, onde funcionava o Abrigo Dom Pedro II, sob administração pública municipal, mas aos cuidados das Filhas da Caridade. Recebeu a incumbência de cuidar do pavilhão São Francisco, com 40 idosos, situado no primeiro andar do imponente edifício. Em pouco tempo cativou sua superiora e as companheiras de hábito, bem como os velhinhos, com seu jeito alegre de ser e o perfume da santidade de sua presença. Todos a admiravam muito.


Não podia essa santa religiosa imaginar que aquele querido Abrigo seria seu Monte Calvário, o lugar destinado por Cristo para misturar seu sangue ao d’Ele. Os problemas começaram em janeiro de 1993, quando ali foi admitido Augusto da Silva Peixoto. Com apenas 46 anos, não tinha ele idade para estar num estabelecimento de caridade para anciãos, mas as freiras tiveram de aceitá-lo, por motivos políticos. Alojaram-no no pavilhão a cargo da Irmã Lindalva. Homem destituído de princípios religiosos e morais, Augusto interessou-se com más intenções por aquela freira de vida ilibada e passou a assediá-la de modo insistente e inconveniente. As admoestações que lhe fizeram outros internos e a própria diretora do setor social do Abrigo serviram apenas para aumentar nele os fortes sentimentos de frustração por ser sempre repudiado. Irmã Lindalva, que preferia morrer a romper seu voto de castidade, viu-se obrigada a tomar muito cuidado, evitando qualquer atitude que pudesse ser mal interpretada por aquele indivíduo sem escrúpulos. Narrou a situação a algumas freiras e companheiras de voluntariado e intensificou suas orações. Mas por amor aos idosos e pela fidelidade à obediência que a havia designado para o Abrigo, não quis sair dali. De caráter forte e seguro, não conhecia o medo ou a fraqueza, jamais abandonando seu “campo de batalha”. “Prefiro que meu sangue se derrame, do que ir embora daqui” — afirmou durante um recreio da comunidade.


Na segunda-feira da Semana Santa, esse nefando personagem comprou no mercado popular um facão de pescador, com a intenção deliberada de matar aquela religiosa que opunha intransponível barreira a seus péssimos intuitos. Durante toda a semana, Irmã Lindalva participara, ao raiar da aurora, da Via Sacra na paróquia da Boa Viagem. Ao percorrer as ruas das proximidades na madrugada da Sexta-Feira Santa, 9 de abril de 1993, meditando sobre a Via Dolorosa de Jesus, certamente não tinha ideia que sua subida particular ao Calvário também culminaria naquele dia. Voltando ao Abrigo, dirigiu-se logo ao refeitório para cumprir sua tarefa de servir o café da manhã aos velhinhos, sem notar a presença de Augusto sentado num dos bancos do jardim. Este, que a esperava, subiu atrás dela, entrou pela porta dos fundos do salão e atacou-a pelas costas, a golpes de facão, numa fúria insana e diabólica. A vítima mal teve tempo de balbuciar: “Deus me proteja!” Recebeu ao todo 44 golpes. Enquanto limpava na própria roupa a arma tingida pelo sangue inocente, o criminoso ensandecido rugia: “Nunca cedeu! Está aqui a recompensa…”. Testemunhava, assim, que Irmã Lindalva havia dado sua vida como prova de amor a Deus, por conservar intacta sua pureza, num verdadeiro martírio do qual os próprios internos davam testemunho."

Fonte:Beata Lindalva Justo de Oliveira, FC – Mártir brasileira do fim do século XX | Revista Arautos do Evangelho

Veja toda a visita do Cariri Cangaço ao Santuário da Irmã Lindalva em Açu, nos "shorts" do Canal do 
Cariri Cangaço no YouTube

Cariri Cangaço Visita
Santuário da Irmã Lindalva, Açu - Rio Grande do Norte
02 de novembro de 2025 

15 de Novembro de 1889, a Fake News que Mudou o Brasil Por:José Tavares de Araujo Neto


No amanhecer do 15 de novembro de 1889, um arrepio percorreu as ruas do Rio de Janeiro. O marechal Deodoro da Fonseca, até então monarquista convicto, viu-se impulsionado a liderar um movimento que nenhum dos protagonistas imaginava ser tão rápido e decisivo. O que poucos sabem é que não foi o desejo pela mudança que moveu Deodoro — foi uma fake news, essa "notícia falsa" em forma de boato cruel, que lhe contou que ele sofreria prisão por suas ações contra o governo imperial. Foi essa mentira, espalhada nos bastidores políticos e militares, que incendiou a chama da rebelião. Deodoro, acuado e convencido de que o muro da monarquia estava caindo sobre sua cabeça, tomou as rédeas do golpe, mesmo contra seus próprios desejos iniciais.

Assim, o Brasil mudou sua fisionomia política não apenas por ideais puros, mas pela força de uma falsidade que mudou rumos e destinos.O velho imperador Dom Pedro II, que tantas vezes fora chamado de "pater patriae", acordou naquela manhã para ver seu reino desmoronar sem batalha ou sangue derramado nas ruas. O país deslizou silenciosamente de uma monarquia que se dizia estável para uma república nascida do embuste, da suspeita e do cálculo político frio. Essa história das fake news não apenas mostra como a propagação da mentira pode impactar decisões de enorme alcance, mas também lembra que na política, mesmo naquele século XIX, as narrativas eram armas tão poderosas quanto os canhões. E assim, numa madrugada marcada por incertezas, o Brasil levantou-se republicano, em um golpe onde a verdade foi a primeira vítima.

Por:José Tavares de Araújo Neto
Conselheiro Cariri Cangaço, Pombal PB
15 de novembro de 2025

No Coração de Teresina ergue-se o Palácio de Karnak

Palácio de Karnak, Teresina-Piauí

O Palácio de Karnak é a sede oficial do Poder Executivo Estadual do Piauí. Antes era a chácara residência do Barão de Castelo Branco, e só em 1926 passou a sede do Governo Estadual e Residência oficial do Governador, na gestão de Matias Olímpio de Melo. O último governador a residir no palácio foi Petrônio Portella. O nome Karnak vem de um templo do antigo Egito, e a arquitetura do palácio foi inspirada em templos gregos. Na década de 70, no governo de Alberto Silva, recebeu jardins de arquitetura contemporânea projetados pelo paisagista Burle Marx.

Tailene Barros e Manoel Severo

O Palácio de Karnak, um dos principais marcos arquitetônicos do Piauí, carrega uma rica herança cultural. Construído em meados do século XIX e inspirado em um templo grego, o Palácio tem servido como sede do governo estadual por décadas. Sua estrutura majestosa e imponente testemunhou momentos históricos cruciais para o estado e o país. Não  há registro seguro quanto à data de construção do Palácio de Karnak, sabe-se apenas apenas que é remanescente  da segunda metade do século XIX.

Um dos primeiros proprietários, ao tempo do império, foi o magistrado Dr. Gabriel Luiz Ferreira, que ali manteve  um educandário d grau médio em 1890, e encerrou suas atividades antes do fim do século. Em 1891, Luiz Ferreira, primeiro governador constitucional do Piauí, vendeu o imóvel aos Barões de Castello Branco até transferi-lo ao governo do Estado.

Tailene Barros e Manoel Severo

Gabriel Luiz Ferreira; foi membro do Partido Conservador do Império e deputado provincial no Piauí de 1876 a 1879. Formou-se pela Faculdade de Direito do Recife em 1882, aderiu ao movimento republicano e após a proclamação da República continuou a atuar na política piauiense. Foi governador do Piauí, de 28 de maio a 21 de dezembro de 1891. Durante sua gestão foi instalado o Tribunal de Justiça do Estado do Piauí em 1 de outubro de 1891..Em 1894, foi eleito deputado federal e exerceu o mandato até a sua morte. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1895.

Brasão Castello Branco

Mariano Gil Castello Branco, primeiro e único Barão de Castello Branco oriundo de uma das famílias de origem portuguesa mais aristocrática do Piauí e de toda o Nordeste, era filho de um casal de primos em terceiro grau Dom Mariano Gil Castello Branco e Dona Vitória Perpétua de Jesus, ambos bisnetos de Dom Francisco da Cunha e Silva Castello Branco, rico fazendeiro na região de Campo Maior no Piauí, que em 1765 teve a sua nobreza oficialmente reconhecida pela coroa portuguesa a mercê do atestado de fidalguia e nobreza, comprovando que seu avô materno, Dom Francisco da Cunha Castello Branco se estabeleceu no Piauí após sofrer um naufrágio na região litorânea piauiense e que o mesmo descendia de alguns dos mais relevantes monarcas medievais europeus, nomeadamente Dom Afonso Henriques I. Também descendiam os fazendeiros Dom João Rego Castello Branco e Dom Luís Carlos Pereira de Abreu Bacelar "Luís Carlos da Serra Negra", bem como o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco; e de ramificações das famílias Ferraz e Pereira da Silva, dentre outras.

Complexo de Templos Karnak em Tebas, Egito

O Palácio Karnak possui linha neoclássica com elementos arquitetônicos greco-romanos, sua denominação “Karnak” evoca ao antigo Egito e um de seus mais famosos conjunto de Templos em Tebas, apesar do Palácio não guardar nenhuma semelhança com os templos do Egito antigo.

Veja toda a visita do Cariri Cangaço ao Palácio de Karnak no Canal do Cariri Cangaço no YouTube, link abaixo:

Visita do Cariri Cangaço ao Palácio de Karnak, Teresina PI 
Canal do Cariri Cangaço no YouTube

Visita Cariri Cangaço ao Palácio de Karnak, 26/10/25 Teresina PI