O Cariri Cangaço é uma Ágora ! Por: Lailson Feitosa

 
Padre Cícero personagem principal do Cariri Cangaço-Edição de Luxo

Ser painelista de um evento da envergadura do Cariri Cangaço, é sem dúvida um compromisso de maior grandeza. Um pouco tenso, em virtude da ansiedade, porém consciente, pois eu estava a passos largos para o meu amadurecimento dentro da pesquisa historiográfica. 

Diante de mim, os maiores nomes da produção científica acerca de nossos personagens históricos, autores que vislumbram o Nordeste brasileiro, a pátria, através de seus filhos, a citar: Virgulino Ferreira da Silva – O Lampião, e com ele o fenômeno social chamado Cangaço, Antônio Conselheiro, Padre Cícero Romão Batista, Beato José Lourenço, Beata Maria de Araujo, Dona Fideralina, Isaias Arruda, Dr. Floro Bartolomeu, Padre Ibiapina, Sinhô Pereira, Os irmãos Maroto, Cel. José Bezerra e tantos outros ícones construtores da sociedade e da cultura nordestina, ou seja, pesquisadores que palmilharam todos os caminhos e veredas do Sertão, em busca dos atos e fatos de seus objetos de pesquisa, contudo, indispensáveis nas bibliografias, indeléveis fontes de conhecimento.

Uma noite de grande responsabilidade e aprendizado. Acompanhar, ouvir, sentir, conversar com aqueles máximos da ciência historiográfica foi sem dúvida uma oportunidade única, ali se aprendia por osmose. Não vou citar nomes, seria injustiça esquecer alguém, pois todos e todas me contemplaram com o mais nobre apreço e consideração. Eu jamais esquecerei aquela noite do dia 25 de setembro de 2015 no Memorial Pe. Cícero. Uma academia, vislumbre e realização, pois o homem é constituído e vai se completando com os desafios.


Caravana Cariri Cangaço na Colina do Horto - Muro da Sedição

Sob o tema: As várias faces de Padre Cícero, ainda que meio ansioso, acendi uma sentinela no sentido de reconstruir o filho do homem, ainda muito mal interpretado nos livros escolares. Uma releitura sobre o Patriarca de Juazeiro, “O padim Ciço”, mediante uma análise genealógica, do meio social, do tempo histórico e acima de tudo de sua VOCAÇÃO.Com isto, difundir, as novas publicações isentas de especulações, chavões e rótulos que ainda satisfizeram oposicionistas ambiciosos e de uma igreja apartada, notadamente, dos fatos nacionais. Não há avanço, quando ainda se lê coisas como, "aluno medíocre... terminou seus estudos com dificuldades, etc. Cícero foi ordenado em 30 de novembro de 1870". Forjam-se juízos de valores, contudo precisamos do enaltecimento da verdade, telúrica e patriótica. 

Carece uma pesquisa dialética no seu tempo histórico, pautada em existentes e fartas fontes primárias. Assim, renasce o nosso personagem, Cícero Romão Batista, e se agiganta juntamente com seu primo José Joaquim Teles Marrocos.  

Descendentes de importantes colonizadores provenientes do rio São Francisco (Alagoas e Sergipe), pioneiros desbravadores das ribeiras do rio Carás. Homens destemidos, arredios e de notório poder sobre o espaço e das pessoas. Com títulos militares de coronéis, tenentes, capitães os mesmos defenderam seus sesmos, jurisdições, perpassaram aos seus descendentes a riqueza, inteligência e a primazia de liderança e domínio. Deste modo, Padre Cícero Romão Batista e José Joaquim Teles Marrocos, jornalista e abolicionista, figuraram na história por seus dotes morais, verdadeiros diplomatas na condução social, econômica e cultural de uma região, o Cariri cearense.


Professor Laílson Feitosa, conferencista da noite
Emerson Monteiro, Angelo Osmiro e Lailson Feitosa em noite de Conferência 
Cariri Cangaço

O primeiro pelo carisma, VOCAÇÃO RELIGIOSA, acolhedor e isento do apego ao profano, porém incluso, pois o homem é um ser social, portanto, sendo inevitável a sua participação política no intricado convívio em sociedade. E naquele momento, regia ao referido padre, o trato de resguardar aqueles, que em sonho recebeu a providência divina de: “E você, Padre Cícero, tome conta deles”, designado a proteger os desvalidos. Cumpriu, com justiça e sem mortes.

O segundo, astuto e desafiador, pois o jornalismo, a causa abolicionista, a escrita e seus discursos ardentes, posto de sua VOCAÇÃO PROFISSIONAL, um político social, questionador e defensor dos seus e de seu torrão.Dois homens, contemporâneos, VOCAÇÕES dispares, mas, herdeiros do paradigma da arte de conduzir uma sociedade. Apesar de iniciados sob o mesmo teto do seminário, somente Cícero teve o chamado divino, em sonho, pelo seu vocacionado.


José Marrocos

José Marrocos foi à armadura e aliado do primo e também defensor do Juazeiro, do povo pobre, injustiçado e sedento de calor humano, o mesmo povo acolhido pelo estimado Padre Cícero Romão Batista, “Padrinho Ciço” ou ainda “Padim Ciço”.

O Cariri Cangaço é uma Ágora, uma praça de discursos, de adição e principalmente de aprendizagem para condução de novas pesquisas, novas leituras e olhares sobre os nossos personagens históricos. Uma ação digna de patriotismo, ao Cariri Cangaço o meu singelo e sincero muito obrigado.Viva ao Cariri Cangaço.

Laílson Feitosa
Professor e Pesquisador, Conferencista do Cariri Cangaço
Juazeiro do Norte, Ceará

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